Isolamento social: sobre os hikikomori
Em 1998, bem antes da pandemia, o psicólogo japonês Tamaki Saito cunhou o termo hikikomori para classificar jovens em isolamento social; ou seja, passam um período longo sem sair de casa.
No livro Isolamento social: uma adolescência sem fim, o autor aponta que essa reclusão pode ser considerada um transtorno cultural. O fenômeno tem preocupado pelos inúmeros casos de jovens em isolamento social registrados.
De acordo com o governo japonês, o país do sol nascente contabiliza pelo menos meio milhão de pessoas – 1, 57% da população – que vivem esse isolamento físico e social caracterizado por um sofrimento psicológico duradouro. E isso já é uma realidade bem antes da pandemia.
Embora as rígidas normas sociais e altas expectativas manifestadas pelos pais – acrescida da cultura da vergonha – façam da sociedade japonesa um ambiente propício para sentimentos de inadequação, gerando a necessidade de se esconder do mundo, esse não é um fenômeno exclusivo do Japão.
Os jovens em isolamento social pelo mundo
O comportamento dos hikikomori foi registrado na Coreia do Sul entre 33 mil adolescentes; em Hong Kong atinge 1,9% da população. Sobre as possíveis causas, alguns especialistas apontam para a influência da tecnologia nesse isolamento, mas não há nada concreto.
O psiquiatra e pesquisador Tae Young Choi – que pesquisa a temática na Universidade Católica de Daegu, na Coreia do Sul – não acredita que a tecnologia provoque esse distúrbio, mas que pode reforçá-lo e aprofundá-lo. Na prática, as pessoas que se isolam e usam a tecnologia fazem com que esse comportamento se torne mais resistente e grave.
Um dado novo tem chamado a atenção. A psiquiatra espanhola Ángeles Malagón Amor – pesquisadora do Hospital del Mar – detectou o problema ao conduzir um programa de tratamento em domicílio em Barcelona, na Espanha. Nesse grupo, apenas 30% tinham o vício da internet, mostrando que se trata de um problema que pode ter causas múltiplas que vão além da tecnologia e da pressão da sociedade oriental. Esse problema de conexão social também foi identificado na Itália.
A National Geographic publicou um ensaio da fotógrafa Maika Elan, que registrou as vidas isoladas dos reclusos sociais no Japão. As imagens e depoimentos mostram um pouco do cotidiano dessas pessoas. Na análise de Maika, “quanto mais tempo os hikikomori permanecem fora da sociedade, mas eles se tornam cientes de seu fracasso social”.
O projeto It felt safe here pode ser visto no site de Maika Elan.
Lu Magalhães, Presidente da Primavera Editorial