Novas formas de ler o mundo
#antesdohappyhour por Lu Magalhães – Para muitas idosas japonesas… a prisão é o céu
“Minha vida é mais fácil na prisão.
Posso ser eu mesma e respirar, pelo menos temporariamente.
Meu filho diz que estou doente e deveria
ser internada em uma instituição para tratar problemas mentais. Mas não me acho doente. Acho que minha ansiedade me fez começar a furtar”,
– MS.T., 80 anos.
Esse é um dos depoimentos destacados por uma matéria que li, recentemente, na revista Bloomberg Businessweek. A reportagem aborda um problema que tem assolado a sociedade japonesa: as idosas estão roubando para ir para a prisão; os números mostram que a cada cinco presas nas cadeias japonesas, uma é idosa. O motivo é que se sentem sozinhas ou “invisíveis”. Na prática, cometem pequenos furtos – a cada 10 velhinhas presas, nove cometeram furtos (frigideiras, ovas de bacalhau, arroz, medicamentos e roupas em promoção) –; um terço dos crimes cometidos por maiores de 65 anos foram feitos por mulheres.
Em um país com a população mais idosa do mundo – 27,3% dos habitantes têm mais de 65 anos –, o problema tem preocupado o governo, pois o custo para manter essas idosas na cadeia aumentou e demanda a contratação de profissionais especializados, transformando as cadeias em algo similar a um asilo. O governo de Tóquio conduziu uma pesquisa, em 2017, que mostrou que mais da metade delas vive sozinha; dessa parcela, 40% não tem família ou raramente conversa com parentes.
A sensação de serem um peso para a família e a falta de dinheiro – quase metade desses idosos com mais de 65 anos estão em situação de pobreza – também as impele a adotar esse recurso extremo. Elas cometem pequenos furtos, esperando encontrar apoio e companhia nas cadeias. Em um dos depoimentos, a idosa conta que foi interrogada pelo “policial mais doce” e que sentiu que estava sendo ouvida pela primeira vez na vida. Aos 80 anos, MS. T. tem uma condição de vida boa: “meu marido me dava muito dinheiro e as pessoas diziam que eu tinha sorte; mas não era o que eu queria, dinheiro não me fazia feliz”.
Confesso que a matéria me chocou. São mulheres que dedicaram a vida, silenciosamente, a cuidar da família. Tamanho silêncio e abnegação tem um custo muito alto; uma fatura que sempre chega para cada uma de nós. Ao nos depararmos com retratos da sociedade, com vivências de mulheres com diferentes histórias de vida, o aprendizado que fica é o da importância do autoconhecimento, da independência social, sexual, profissional e financeira.
Na Primavera Editorial o legado que construímos está baseado em ajudar as mulheres brasileiras – e leitoras da Língua Portuguesa – a embarcar em um processo de autoconhecimento que desemboca no empoderamento feminino. Temos como missão o fortalecimento da emancipação social da mulher por meio da leitura. Acredito que a leitura gera conhecimento, provoca reflexões e modifica a posição intelectual, profissional e social!
– Lu Magalhães, presidente da Primavera Editorial
Fonte imagem: Matéria Hapyeness. Disponível em: <https://www.hypeness.com.br/2018/03/contra-a-solidao-idosas-japonesas-estao-cometendo-crimes-para-viverem-na-prisao/>