Novas formas de ler o mundo
#antesdohappyhour por Lu Magalhães – A volta de Isabella Rossellini à Lancôme: sororidade ou pragmatismo mercadológico?
Há 23 anos, Isabella Rossellini deixou de ser o “rosto” da marca de cosméticos Lancôme. À época, a atriz tinha 42 anos. Hoje, aos 65 anos, volta a ser contratada pela mesma marca que a dispensou com a alegação de que “era demasiado velha e que as mulheres sonham com a juventude, por isso não poderia representar esse sonho” – conforme relatou a própria Isabella em um talk show norueguês.
Provavelmente os sonhos das mulheres mudaram, certo? Mais do que isso, a diferença veio do olhar da principal executiva da marca, Françoise Lehmann. Ela afirmou à Isabella que as mulheres tinham se sentido excluídas e rejeitadas; que quer mudar a comunicação e incluir todas. E, aqui, cabe uma provocação. Inclusão, sororidade ou pragmatismo mercadológico? Liderando a companhia de cosméticos desde 2013, certamente a presidente sabe que o número de mulheres com mais de 60 anos chegará aos 500 milhões em 2020; em apenas dois anos as sessentonas serão uma força consumidora de 15% da população mundial. A pesquisa Consumer Generations aponta que o poder de compra dos consumidores sêniores (homens e mulheres) deve superar os R$ 30 trilhões no mundo. Então, é bem fácil entender que a indústria está reformulando as estratégias.
Óbvio que os executivos de marketing de várias marcas associadas à beleza estão falando que os padrões estéticos mudaram, mas… parece claro que os números do mercado foram determinantes para rever um comportamento desrespeitoso em relação às mulheres com mais de 40 anos.
Voltando à Isabella Rossellini, na verdade, a atriz retornou à marca em 2016 ao participar de uma campanha da ONG Care – apoiada pela Lancôme – que promovia o combate à falta de letramento feminino em países em desenvolvimento. A campanha solidária reuniu outras embaixadoras da marca como a modelo Taylor Hill e as atrizes Lupita Nyong’o, Lily Collins, Penélope Cruz, Kate Winslet e Julia Roberts. Esse exemplo, na minha percepção, representa a real sororidade; uma iniciativa que configura uma aliança feminina em busca do objetivo comum de resgatar mulheres da condição de analfabetismo.
E por que a sororidade é um tema tão importante? Porque ela nos torna protagonistas da resolução de problemas enfrentados – e criados – por cada uma de nós. Se, em um passado recente, a indústria de cosméticos alegou que o repertório feminino sobre beleza e juventude os ‘forçava’ a demitir Isabellas e a contratar jovens mulheres, hoje dizemos um sonoro NÃO. Queremos – como consumidoras conscientes e cidadãs – e exigimos mais diversidade feminina. Queremos nos enxergar na propaganda; queremos ser representadas por mulheres de todas as idades, pesos, culturas, opção sexual…
E, também, queremos nos unir em prol do letramento feminino – e convidamos os homens para essa batalha. Acredito que essa aliança em prol da educação de meninas possa construir uma sociedade melhor. Para apoiar essa revolução feminina, a equipe da Primavera Editorial reafirma a missão de fortalecer a emancipação social da mulher por meio da leitura.
– Lu Magalhães, presidente da Primavera Editorial