Não basta ganhar menos – tem que gastar mais: mulheres, consumo e a Pink Tax
Não basta ganhar menos – tem que gastar mais: mulheres, consumo e o Pink Tax (ou “como absorventes ainda são tidos como um item de higiene supérfluo”)
Dizem que, na vida, apenas a morte e os impostos são inevitáveis. Contudo, se você é mulher, há algo a mais que também parece ser inevitável: o custo de itens desenvolvidos para mulheres – incluindo variantes “femininas” de determinados produtos – tendem a custar, em média, 7% a mais se comparados às suas versões masculinas. Trata-se do chamado Pink Tax, ou “taxa rosa”, em tradução livre do inglês, uma quota adicional aos produtos que têm como destino a cesta de compras feminina. Mesmo que soe absurdo, as justificativas para o Pink Tax são das mais variadas; desde maior valor de fabricação a tributos governamentais. Não importando o argumento – uma coisa é clara: o Pink Tax é mais um adendo no elevado custo social de ser mulher.
No Reino Unido, a rede de supermercados Tesco anunciou uma redução de 5% nos preços de absorventes higiênicos. Porém, este valor não foi estabelecido ao acaso – artigos de higiene íntima feminina não são isentos do VAT, sigla para “taxa de valor agregado”, imposto sobre itens de consumo. Há três categorias diferentes do VAT – a padrão, que corresponde a 20% do valor do produto, a reduzida (5%) e nula (0%). Alguns itens gozam de tributação zero, como frutas e vegetais, medicamentos, tarifas de transporte público; até recentemente, porém, absorventes eram taxados como um item “padrão” – ou seja, considerados não-essenciais pelo governo, tendo 20% de seu custo original agregado ao seu preço final para as consumidoras. Depois de enfrentar diversas petições e protestos, o governo os recategorizou como dignos de tarifa reduzida, mas ainda assim, não livre da taxa. A rede Tesco, através de uma pesquisa com seus consumidores, descobriu que um número considerável de suas clientes considerava o custo dos absorventes muito elevado, e optou por cobrir os 5% por conta própria. O Parlamento, porém, só deve passar a considerar absorventes como item de consumo essencial a partir do fim deste ano – e apenas por ter sofrido com protestos intensos.
Já nos EUA, serviços de lavagem de roupas a seco têm preço diferenciado de acordo com gênero. O argumento é que as prensas de roupas foram desenhadas para camisas masculinas, e os itens femininos (mesmo que sejam camisas, inclusive) não podem ser usados nas mesmas prensas, já que podem sofrer alterações de tamanho ou tecido. Prensas unissex já existem, sim – e por até metade do preço que prensas de tamanhos de peças masculinas. Mas, por tomarem mais tempo para executar o serviço, acabam sendo deixadas de lado pelas lavanderias… e o custo extra do serviço recai, novamente, nas costas das mulheres.
Enquanto isso, no Brasil, um aparelho de barbear masculino com três lâminas custa em média R$1,75 a menos do que a versão depilatória feminina. A diferença entre os dois? Um consumidor leigo apontaria apenas o óbvio: a cor rosa. De resto, a estrutura de ambos os aparelhos é basicamente a mesma. Enquanto o fabricante se defende ao apontar as diferenças técnicas entre os aparelhos – como a ergonomia e o tipo de pele e pelo em que as lâminas são utilizadas – encarece a produção dos depiladores femininos, especialistas de marketing apontam pequenos detalhes que, tal qual o imposto britânico, agregam valor às versões femininas: no caso das lâminas de barbear, por exemplo, as vendas dos aparelhos masculinos são mais elevadas, exigindo da indústria uma margem maior de preço nas femininas; além disso, as mulheres são tidas como mais dispostas a gastar mais por pequenos detalhes – aumentando ainda mais a sede dos fabricantes em cima dos itens femininos ao acrescentar pequenas coisas como aromas ou cores diferenciadas… e alguns dígitos mais elevados ao preço, também.
O Pink Tax ainda se estende às mulheres além da idade adulta – roupas para meninas chegam a custar, de acordo com uma pesquisa realizada pelo Departamento de Consumo da cidade de Nova Iorque, nos EUA, até 4% a mais que as de meninos – mesmo que sejam basicamente idênticas. Em brinquedos, a diferença chega a 7%, e, em cosméticos, a diferença salta a 13%. Enquanto isso, o índice GPG – ou Gender Pay Gap, “diferença salarial de gênero” em inglês, mostra uma discrepância média de 15,46% entre salários de homens e mulheres – chegando a mais de 30% em países como a Coréia do Sul e a Estônia. No fim das contas, a lista de inevitáveis para as mulheres acaba sendo um tanto maior do que para os homens: a morte, os impostos e a garantia de que, além de ganhar menos do que eles, nós ainda precisamos gastar mais para comprar basicamente os mesmos produtos.
… já para a rede de supermercados Tesco, fica o questionamento – enquanto as britânicas garantem um alívio de 5% nas carteiras ao comprar seus artigos de higiene íntima, ainda fica a pergunta: será que o supermercado paga seus funcionários homens e mulheres de forma igualitária?”
PS: está acontecendo o maior processo de equiparação salarial entre gêneros da história do Reino Unido contra a Tesco. As funcionárias afirmam ganhar 3 libras (R$14) menos que os homens por hora. O custo da equiparação para a rede de lojas pode chegar a £4 bilhões (19,5 bilhões de reais). Confira aqui.
Patricia Wiese