Violência nas escolas: educar massivamente para a aceitação uns dos outros
Em um momento em que assistimos atônitos a uma série de casos de violência nas escolas – em especial, os casos das escolas de Suzano e Rio de Janeiro – me deparei com um artigo sobre o livro A estranha ordem das coisas, do neurocientista português António Damásio.
Na obra, o autor adverte para a necessidade de “educar massivamente as pessoas para que aceitem os outros, porque se não houver essa educação em massa, os seres humanos vão matar-se uns aos outros”. Ele fala de uma educação que contraria os nossos instintos mais básicos – que nos impelem a pensar primeiro na nossa sobrevivência. Ou seja, trocar esse instinto primário por um sentimento mais elaborado e coletivo. A proposta é suplantar uma biologia muito forte e desenvolver a empatia.
Violência nas escolas em pauta
Nas escolas, a ênfase dada aos conteúdos intelectuais não está dando conta da complexidade do viver contemporâneo. Dalai Lama diz que “cérebros brilhantes também podem produzir grandes sofrimentos; é preciso educar os corações”. Concordo muito com essa elaboração. O treinamento dos corações, o lidar com emoções distintas e nem sempre positivas não têm sido objeto de ensinamento nas escolas. É como se o ser humano precisasse ser capacitado apenas intelectualmente.
A educação de corações – como alegoria para o entendimento das emoções – é negligenciada, embora o sentimento seja a matéria-prima para construirmos a nossa individualidade. O neurocientista português aponta que “a atividade cultural começa e permanece profundamente alicerçada em sentimentos; precisamos reconhecer a interação favorável e desfavorável das emoções com o raciocínio se quisermos compreender os conflitos e as contradições da condução humana”.
É na escola que nos deparamos com as diferenças. É na escola que experimentamos as emoções causadas pela estranheza desse mundo repleto de pessoas diferentes de nós. O racismo e a intolerância religiosa podem surgir e ganhar fomento nesse ambiente. Passou da hora de conversarmos sobre como a escola deve se reinventar para responder às demandas contemporâneas não apenas do futuro do trabalho, das carreiras do futuro, mas precisamos discutir o papel da escola na formação de um cidadão que respeita e abraça as diferenças; um ser humano que entende a diferença como fonte de apoio para a construção de um mundo construído por múltiplos talentos. As crianças precisam desse novo olhar para construirmos um futuro sem as tragédias que temos presenciado.
Lu Magalhães, presidente da Primavera Editorial