Sobre o radicalismo das nossas opiniões e a liberdade de ser
Resolvi falar sobre o radicalismo nosso de todo dia; expresso nas opiniões que damos, nos julgamentos que fazemos depois de receber um e-mail curioso para mim, como mulher
Em pleno processo de divulgação do Brilhe na sua praia, livro das britânicas Yomi Adegoke e Elizabeth Uviebinené – cujo subtítulo é a “Bíblia da garota negra” – recebo o e-mail sui generis de um blogueiro.
Importante ressaltar que não estávamos fazendo uma abordagem de conteúdo pago; enviamos, tão somente, um press release com informações sobre o lançamento e sobre as autoras.
Ele, muito educado, explica que não divulgará a obra, porque se recusa a “produzir qualquer material onde a foto de divulgação traz duas mulheres negras ostentando cabelos artificializados e que se vestem de maneira ocidentalizada; recebo isso como explícita negativa da cultura afro”.
Um mundo cheio de radicalismo
Eu, obviamente, aceito, respeito e defendo a livre expressão de opiniões contrárias às minhas, sobretudo quando o posicionamento é feito de maneira serena e educada. O respeito é fundamental, sempre. Entretanto, não posso negar que fiquei chocada – em especial, como mulher.
Mesmo os que atuam como ativistas de causas relevantes, podem cometer o erro de julgar como uma mulher deve vestir ou se comportar em relação à própria cultura. Cada um é livre para usar o cabelo e a roupa que bem entender. Mas, estaria eu julgando também o blogueiro em questão?
Na mesma semana, fiquei sabendo da história de uma gestante que, após o chá de bebê, enviou desculpas por whatsapp por ter adereços azuis na festa; queria deixar bem claro que não compartilhava da opinião da tal ministra “menina veste rosa, menino veste azul”. Ela ficou apavorada com a possibilidade de não enxergarem que o lúdico norteou a decisão da decoração da festa infantil – não um posicionamento político.
O que uma história tem a ver com a outra? Tudo, ao meu ver…Estamos vivendo em um mundo cheio de radicalismo — de todos os lados.
Vivemos tempos polarizados, dizem por aí. Triste notar que cada um de nós escolheu um tipo de radicalismo como forma de expressão. Optamos por falar um idioleto – um sistema linguístico típico de um único indivíduo em determinado período de vida; uma linguagem que plasma características e estímulos profundamente pessoais.
E qual é o problema? A simples falta de comunicação; de diálogo entre pessoas distintas, mas que querem aprender com a diferença. Hoje, todo mundo tem razão e não resta espaço para ser empático. Acho lamentável!
Nesse cenário, o ar fica pesado. A energia não circula e se acirram os ânimos. Palavras são usadas como armas de ataque. Humor negro ou denegrir se tornam racismo estrutural. Que, de fato, são. Mas, o tema deveria ser debatido de maneira racional e polida. Nada mais equivocado do que pensar que a conquista se dá ao subjugar o adversário.
Os mais aguerridos defendem que não é possível ser tolerante com “desvios”; que somente a radicalização chamará atenção para um novo patamar de comportamento social. Estamos indo de um extremo ao outro. Os otimistas dizem que logo mais chegaremos ao meio, após essa vivência em extremos. Será?!
Acho a humanidade tão mais inteligente que isso! Ou seja, poderíamos fazer melhor. Entender que radicalismos de direita ou de esquerda não nos levam adiante seria o primeiro passo. Perder tempo com os extremos nos tira oportunidades preciosas de construir pontes – no lugar de destruir. É nisso que acredito. E você?
Lu Magalhães, presidente da Primavera Editorial.