Dia Nacional da Poesia: Florbela, uma resistência poética feminina
Nesta semana, dia 29 de outubro, é o Dia Nacional do Leitor, mas não só. Dia 31, nascimento de Carlos Drummond de Andrade, também é o Dia Nacional da Poesia, uma efeméride importante para refletirmos sobre essa arte que parece não ter espaço atualmente.
Da minha parte, sou uma leitora assídua de poesias, porque acredito que elas plasmam um sentimento que atravessa os tempos e nos coloca no momento histórico (real e imaginário) no qual foi escrita.
Há algo de transcendente na poesia e nos poetas, que nos proporciona uma verdadeira viagem no tempo.
Poesia é resistência em tempos tão duros
Para celebrar o Dia Nacional da Poesia, indico uma poeta que nos proporciona essa viagem da qual me refiro. Florbela Espanca, cuja uma das marcas é uma produção literária libertária, era puro arrebatamento; possuía uma linguagem telúrica, repleta de elementos com os quais construiu uma obra com forte teor confessional: densa, amarga e triste.
A expressão poética – via contos, poemas, cartas e sonetos – é marcada por sentimentos como amor, saudade, sofrimento, solidão e morte, mas sempre em busca da felicidade.
São textos que convidam o leitor, sobretudo as mulheres, a refletir sobre o amor, a devoção e o erotismo de uma forma deslocada do tempo. Aliás, a produção literária dessa portuguesa socialmente inovadora, nascida no século XIX, dialoga perfeitamente com as defesas feministas contemporâneas.
Florbela, poeta e feminista
Florbela sempre teve uma necessidade de colocar para fora os próprios sentimentos, o que torna a sua obra tão pessoal e biográfica. Nunca precisou levantar bandeiras, porque ela em si já era a personificação da emancipação feminina em sua época.
É impossível passar ilesa à sua obra, que cozinha amor, erotismo e devoção – devoção esta, muitas vezes, submetidas ao amor de um homem, sim, mas sempre consciente de ser uma escolha, não uma imposição.
Embora ofuscada muitas vezes pela figura de poetas como Fernando Pessoa, Florbela foi um dos grandes nomes da poesia portuguesa. Nascida em 8 de dezembro de 1894, na região do Alentejo, foi fruto de uma relação extraconjugal entre João Espanca e Antónia da Conceição Lobo, que a registrou como “filha de um pai incógnito”.
Com a morte prematura da mãe, passou a ser criada pelo pai e a esposa dele, Mariana do Carmo Toscano. O reconhecimento como filha legítima só veio após a morte da madrasta. Com 18 anos, Florbela iniciou o ensino secundário, sendo uma das primeiras mulheres a estudar, o que configurava um escândalo para a sociedade da época. Após se casar, a poeta decide voltar a estudar e ingressa na Faculdade de Direito de Lisboa – era uma das 14 mulheres entre 347 estudantes homens.
Não foram apenas os estudos que tornaram Florbela uma mulher à frente do seu tempo. Em 1921, ela se apaixonou por António Guimarães e decide, então, pedir o divórcio a Alberto, primeiro marido (ela se divorciaria, depois, de António também). Embora o ato tenha sido completamente condenado pela sociedade, Florbela não se importou; não queria seguir os mesmos passos da mãe, pois estava mais interessada em buscar a própria felicidade. E, prosseguindo essa jornada, foi construindo uma obra da mais alta qualidade literária…
Poesia é resistência em tempos tão duros!
Uma coleção para celebrar a poesia
Aqui na Primavera, reunimos as poesias de Florbela em uma coleção inteira digital. Com o intuito de disseminar a história e obra de Florbela, criamos na Primavera Editorial o projeto Bela Flor, como uma homenagem à poetisa.