Efeitos da leitura: os benefícios cognitivos de ler um livro
Uma pesquisa conduzida pela NETFLIX com mil jovens brasileiros mostrou que a chave para o sucesso de uma série reside na identificação do público com as personagens. Ou seja, mais do que um roteiro bacana e uma história digna de maratona, as personagens devem enfrentar desafios similares ao espectador; algo como um espelho.
Essa pesquisa revelou que 49% dos entrevistados sentem que as histórias narradas em sua série predileta já aconteceram com eles; 57%, diante de situações reais da vida, já se perguntaram o que a personagem preferida faria se vivenciasse o mesmo.
Mas essa identificação com personagens, na minha percepção, não constitui um fenômeno recente ou distante da realidade de pessoas mais velhas. Pelo contrário. Esse é um dos efeitos da leitura também. A literatura está repleta de personagens que despertaram essa sensação em diferentes leitores. E despertam até hoje.
Efeitos da leitura: conexão com personagens é real
São essas personagens, inclusive, que deixam aquele sentimento de abandono quando o livro acaba. Que leitor nunca experimentou a emoção de sair da realidade e tomar o corpo de uma “pessoa” fictícia? Pois, até a ciência explica esse fenômeno que ocorre, também, no sentido biológico.
Um estudo conduzido por cientistas da Universidade Emory, nos Estados Unidos, aponta que ler pode afetar o cérebro por dias; é como se estivéssemos vivenciando os eventos descritos no livro. No mapeamento, os pesquisadores utilizaram o livro Pompeia, de Robert Harris, sobre a erupção do Monte Vesúvio, na Itália antiga. Na história, o protagonista vê de longe a cidade, percebe o vapor do vulcão e decide voltar para salvar a mulher amada.
Para o experimento, os pesquisadores analisaram o efeito da leitura sobre as redes cerebrais, a partir do uso de ressonância magnética funcional. A escolha da narrativa não foi aleatória. A proposta era ter um texto repleto de suspense e emoção para que os leitores (participantes da pesquisa) pudessem se envolver com a história.
As mudanças neurais presentes nos voluntários eram associadas a sensações físicas – e os sistemas de movimento sugerem que a leitura transportou os pesquisados para dentro do corpo do protagonista. “É muito interessante provar que, por meio da leitura, a pessoa ativa áreas (do cérebro) como se estivesse mesmo vendo a ação. Isso mostra que você tem um grande circuito cerebral que pode ser ativado por meio de mecanismos externos”, explica a coordenadora do Departamento Científico de Neurologia Cognitiva e do Envelhecimento da Academia Brasileira de Neurologia, Sonia Maria Dozzi Brucki, em entrevista para o jornal Estado de Minas.
O professor Gregory Berns, autor do estudo, afirmou que os pesquisadores já sabiam desses efeitos da leitura. Boas histórias podem sim colocá-lo no lugar do outro (em sentido figurado). “Agora, estamos vendo que alguma coisa pode estar acontecendo também biologicamente; essas mudanças neurais não eram apenas reações imediatas, já que persistiram não só pela manhã seguinte às leituras, como também durante os cinco dias após os participantes terminarem o romance”.
As principais conclusões da pesquisa podem ser acessadas no site https://www.liebertpub.com/doi/full/10.1089/brain.2013.0166
Lu Magalhães, presidente da Primavera Editorial