
Incels: os homens ‘celibatários involuntários’ que odeiam as mulheres
Os incels – expressão resultado da junção das palavras inglesas involuntary celibates – são homens jovens que se definem como celibatários involuntários.
E, de fato, como diz o título, eles odeiam as mulheres. Nas redes sociais, eles discutem ativamente o movimento e têm chamado a atenção das autoridades.
Um desses jovens celibatários involuntários, Jake Davison, é suspeito de matar cinco pessoas na cidade de Plymouth, no Reino Unido. E, ele não está sozinho. Nos Estados Unidos, pelo menos dois assassinos em massa participavam desses fóruns.
O mundo sombrio dos celibatários involuntários
Na BBC, essa reportagem me chamou a atenção: O mundo sombrio dos incels, celibatários involuntários que odeiam mulheres fala sobre um movimento de jovens homens que acreditam na impossibilidade de atrair mulheres.
A experiência negativa em relacionamentos – associada a fracassos e frustrações partilhados por todos os humanos – fez com que esses meninos de pouco mais de 20 anos formassem grupos nas redes sociais para compartilhar visões misóginas.
A matéria traz entrevistas com alguns deles nas quais o repórter pergunta, diretamente, se odeiam as mulheres. A resposta é sim!
As redes sociais e os celibatários involuntários
Certa vez, ouvi um especialista em redes sociais falando que elas são tão perigosas quanto o aquecimento global. Essa frase, à época, me pareceu exagerada. Hoje, nem tanto. Nas entrevistas da BBC, um dos garotos fala que um sentimento que tem uma dimensão relativamente pequena ganha corpo nessas comunidades. “Elas absorvem você para entrar nessa caixa de ressonância de pessoas que sofrem problemas similares. Você pensa em algo pequeno… aí, você vê outras pessoas pensando em coisas muito mais radicais. Então, você acha que as coisas pequenas são aceitáveis”, afirma, ao se referir aos insultos proferidos contra as mulheres.
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Os insultos, aliás, são baseados na ideia de que todas as mulheres buscam somente dinheiro, são promíscuas e manipuladoras.
Chamadas de Stacys por eles, elas são objeto de desejo e de ridicularização no mundo dos incels; eles acreditam que as mulheres sempre ficarão com os Chads (caricatura de um homem sexualmente bem-sucedido e autoconfiante).
Nesses grupos on-line, a positividade é algo que não entra. Ou seja, se algum deles interagir positivamente com mulheres, é imediatamente classificado como fakecel (algo como falso incel).
Eles existem mesmo?
Um dos heróis desse mundo virtual criado pelos incels é Elliot Rodger que, em 2014, matou seis pessoas e se matou. Ele deixou um manifesto desconexo, no qual insulta as mulheres; reclama, no texto, que elas não queriam fazer sexo com ele.
Na matéria, o repórter Jonathan Griffin cita uma conversa na qual o rapaz fala em suicídio. Como resposta, um participante dispara: “Não seja egoísta. Vá a uma escola primária e mate algumas crianças antes de cometer suicídio”. Aliás, esses fóruns são lugares de “apoio” a pensamentos suicidas, inclusive.
Sociedade em pauta: será que falhamos?
Com essas informações sobre esse movimento, impossível não pensar que estamos falhando como sociedade. Que ponto da educação – sob uma perspectiva humanista – estamos negligenciando?
Essa é uma pergunta que deve ser feita e respondida rapidamente não apenas para salvar vidas, mas para que todas as vidas (inclusive desses garotos) sejam significativas. Lembrei de Dalai Lama, que costuma pregar sobre a importância de “educar corações”.
Ele diz, guardado o devido contexto:
“Meu desejo é que, um dia, a educação formal dê atenção à educação do coração, que ensine o amor, a compaixão, a justiça, o perdão, a presença mental, a tolerância e a paz. Essa educação é necessária, desde o jardim de infância até o ensino médio e as universidades. Refiro-me a aprendizagem social, emocional e ética. Precisamos de uma iniciativa mundial para educar o coração e a mente nesta era moderna”.
Faço coro a esse desejo.