Gordo tem dia?
A internet é um território curioso. Dias desses, lendo uma matéria da Folha de S.Paulo de 2018, descobri que 10 de setembro é o Dia do Gordo. Posso dizer que fiquei intrigada com a efeméride. Em uma pesquisa rápida, a justificativa é que a comemoração serve como alerta para conscientizar as pessoas sobre a importância de respeitar as pessoas que estão “acima do peso”. Que peso? Defina “acima do peso”.
Aliás, nossa sociedade é tão estranha que mesmo quando tenta homenagear – ou alertar –, acaba trazendo novos preconceitos. Mesmo assim, é urgente falar sobre a gordofobia! Esse assunto é tratado com maestria no livro Meu Corpo, Minhas Medidas, lançado pela Primavera Editorial.
Por quase duas décadas, a autora Virgie Tovar esteve em dieta. Por isso, restringia tudo o que comia e tentava alterar a forma e o tamanho do corpo à base de exercícios. Cada mordida ou colherada de comida era como uma peça dramática encenada no palco da vida. Assim, aos onze anos fez a primeira dieta radical – na realidade, mais inanição do que redução de alimentos. Crescendo como uma garota gorda, acreditava que o corpo precisava ser melhorado.
Gordo sim, e daí?
Duas décadas de dietas e culpas constantes foram substituídas pela liberdade de confiar no próprio corpo. A saga dessa norte-americana de origem hispânica ao gordoativismo feminista é a matéria prima dessa obra.
De acordo com a autora, a misoginia se manifesta de diferentes formas, dependendo da posição do corpo feminino no esquema sexista. Todas as mulheres são subjulgadas. Mulheres magras são tão desumanizadas quanto as mulheres gordas. Mulheres muito magras são posicionadas em cargos mais públicos – esposas e namoradas –; enquanto as gordas estão em posições mais privadas como amantes ou namoradas secretas. “Mesmo entre as gordas existem variações no tratamento, baseadas em comportamento e status social. Uma mulher gorda cisgênero provavelmente terá um tratamento diferente de uma mulher gorda transsexual. Uma única feminista não é capaz de reparar o legado de misoginia que continua a habitar e destruir nossas vidas”, avalia Virgie Tovar.
Superação: aprender a se aceitar
Virgie superou a crença equivocada de beleza como sinônimo de peso e passou a ajudar outras mulheres a fazerem o mesmo. Hoje, essa mulher de 113 quilos permanece faminta por um mundo onde os corpos são valorizados igualmente. É fashionista, ativista vociferante, amante de docinhos com creme, uma viajante global, desbocada e uma boêmia de San Francisco, Estados Unidos. E, acredito, não está nem aí para o Dia do Gordo.
Lu Magalhães, presidente da Primavera Editorial