O insulto na comédia; existe um limite para o humor?
Afinal, como questiono logo no título: Existe um limite para o humor? A capa do Charlie Hebdo sobre a Copa do Mundo de Futebol Feminino causou alvoroço na França recentemente justamente por, a meu ver, extrapolar esse limite.
Com o pretexto de fazer humor, a revista Charlie Hebdo tratou da Copa do Mundo feminina com profundo desrespeito às mulheres, em uma manchete que sugere, em livre tradução, “vamos engolir isso por um mês”.
No editorial, criticam a mercantilização da modalidade; abordaram a falta de sensibilidade da FIFA e dos comitês organizadores de Copas masculinas em meio a contextos regionais como a ditadura na Argentina e as conduções de trabalho precário dos estádios do Qatar; afirmaram que o futebol feminino contribuirá para emburrecer multidões; e defenderam que é triste ver que a ambição do futebol feminino é ficar tão estúpido, vulgar e cínico quanto o masculino.
Na minha opinião, a despeito de qualquer defesa da livre expressão, a ilustração com uma imagem alusiva à pintura “Origem do Mundo”, de Gustave Courbet – é grosseira, machista e ultrajante.
Liberdade de expressão e o limite para o humor
O episódio me remete a duas perguntas: Qual é o limite para um insulto? O humor deve ter um passe-livre para disseminar a misoginia? Não se trata de discutir o politicamente correto, mas de questionar a intolerância disfarçada da sátira. Talvez seja esse o limite para o humor? Essas são duas reflexões nada triviais.
Acredito que o humor é uma parte importante da formação da crítica de uma nação por disseminar valores e visões de mundo.
Então, uma piada é muito mais do que uma simples sátira. Ou seja, é, antes de tudo, um conteúdo que pode plasmar uma ideologia distorcida. Vai além de fazer rir. Exagero?!
Nós, mulheres, sabemos que não. Tornar natural a humilhação de mulheres e de minorias – e a nossa luta por respeito – não é nada engraçado. E fica o questionamento: qual o limite para o humor? É só para fazer rir ou as piadas sexistas querem nos tirar do lugar do respeito?
Para ir além do tema
Sobre as fronteiras e o limite para o humor, recomendo o documentário de Pedro Arantes: O riso dos outros.
Na abertura do filme, a frase de Goethe dá tom ao que está por vir:
“Nada descreve melhor o caráter dos homens do que aquilo que eles acham ridículo”.
O que vocês pensam sobre isso? Existe um limite para o humor?
Lu Magalhães, Presidente da Primavera Editorial