O papel das mulheres nos relacionamentos e o dilema das “esposas”
Quando subiu ao palco para receber o Globo de Ouro, na categoria Melhor Atriz de Drama, Glenn Close emocionou o mundo inteiro, sobretudo nós, mulheres. Premiada pela performance no filme The Wife (A Esposa) – na qual interpreta uma personagem que passa a questionar as escolhas e sacrifícios feitos para apoiar a carreira do marido –, a atriz foi protagonista do discurso mais importante da noite, em que ela falou sobre o papel das mulheres nos relacionamentos. Ao assistir, pensei o quanto é importante usarmos nossas experiências pessoais para inspirar outras mulheres.
Explicando melhor, no discurso, Glenn puxou no passado uma história familiar que deve servir de alerta a cada mulher, independente da idade e do país no qual reside.
Penso em minha mãe, que foi submissa ao meu pai a vida toda. Aos 80 anos, ela me disse, ‘sinto que não conquistei nada’. Isso não estava certo. Esperam que nós, mulheres, tenhamos filhos e nos casemos; tenhamos algum parceiro. Mas, temos que encontrar nossas realizações. Temos que realizar nossas vidas. Seguir nossos sonhos. Nós, temos que dizer: eu sou capaz disso e tenho o direito de fazer isso. Quando eu era pequena eu me sentia como Muhammed Ali, que estava destinado a ser um boxeador. Eu sabia que estava destinada a ser uma atriz. Em setembro, irei completar 45 anos de carreira e não posso imaginar uma vida mais maravilhosa.”
Mulheres nos relacionamentos amorosos ao longo da história
Entendeu?! O meu ponto é que historicamente as mulheres são incentivadas a cuidar das carreiras dos maridos; ser esposa é quase sinônimo de anulação nos quatro cantos do mundo. É como se tivéssemos que escolher entre ter um casamento/amor ou ter uma carreira. Parece que as mulheres só se realizam como mulheres nos relacionamentos amorosos; e isso está muito longe da verdade.
Em nome dessa vida amorosa feliz, a renuncia se impõe como condição para a construção desse relacionamento perfeito. Foi assim com a mãe de Glenn Close; é assim com milhares de mulheres ao redor do mundo.
Acha que estou exagerando? Poderia dar milhões de exemplos para provar que não; poderia citar a situação das mulheres nos relacionamentos amorosos em sociedades religiosas do Oriente. Mas, vou optar por um caso corriqueiro no Ocidente.
Um exemplo ocidental da submissão das mulheres
Para concorrer e vencer o concurso de Miss Universo as candidatas não podem ser casadas ou ter filhos. Em 1952, a Miss Finlândia Armi Kuusela teve que abandonar o título para casar com um empresário filipino.
Em 2015, no Miss Mundo Brasil, Ana Luísa Castro renunciou ao título conquistado por amor. Que mundo é esse? – você deve estar se perguntando.
É um mundo que, aos poucos, está se tornando mais inclusivo. Mérito, aliás, da batalha de mulheres e homens, juntos, por uma nova construção social. O concurso Miss Mundo, em 2018, contou com uma mulher transexual como concorrente, representando a Espanha. A linda Angela Ponce ficou entre as 20 mais belas do mundo. Entretanto, temos muito o que avançar.
O ponto é que o caminho para avançarmos mais – e juntas –, passa por exercermos a sororidade ativa; temos que dar apoio a cada mulher do nosso círculo para garantir que estamos cumprindo os objetivos e sonhos de vida.
Concordo com Glenn Close que disse: “precisamos dizer ‘eu consigo e tenho o direito de conseguir’”.
Lu Magalhães, Presidente da Primavera Editorial