Por que os homens brasileiros leem menos que as mulheres?
* por Lu Magalhães
A imprensa brasileira tem noticiado que algumas empresas têm investido em ações de marketing alusivas ao Dia do Homem, que é comemorado no país em 15 de julho. A data – internacionalmente celebrada em 19 de novembro – foi estabelecida por Mikhail Gorbachev, ex-presidente Russo, com apoio da Organização das Nações Unidas (ONU) e de grupos de defesa dos direitos masculinos da América do Norte, Europa, África e Ásia. A proposta inicial era promover a igualdade entre os gêneros e incentivar a população masculina a cuidar da saúde de forma preventiva. No Brasil, o comércio tem associado a data à oportunidade de aquecer as vendas no mês de julho. A ideia é incentivar as mulheres a presentear namorados, filhos, amigos e maridos com artigos diversos e, em especial, roupas e cosméticos.
Mas, posso discordar dessas sugestões de presentes? Creio que seria melhor presentear com um livro. Sim, um singelo livro! Exatamente porque os homens brasileiros precisam ler mais – é o que mostra a terceira edição da pesquisa Retratos da Leitura no Brasil, conduzida pelo Instituto Pró-Livro. Os dados revelam que apenas 43% dos leitores brasileiros são homens. As mulheres – 53% das leitoras do país – têm um papel fundamental para incentivá-los a tornar a leitura um hábito. Professoras e mães, em especial, pois são responsáveis pela indicação e incentivo à leitura: 45% e 43%, respectivamente.
Embora tenha acesso a pesquisas sobre o mercado editorial, confesso que sempre resisti à ideia de que homens leem menos que as mulheres. Creio que tenham ficado em meu subconsciente inúmeras imagens de homens com livros e jornais. Em um artigo muito interessante, o professor e escritor Mario Sérgio Cortella nos lembra da cartilha Caminho suave, de Branca Alves de Lima. Ele conta que no capítulo sobre a família, a ilustração mostrava um pai sentado em uma poltrona, lendo o jornal. Atrás dele, em pé, a mãe vestida com um avental, segurava uma bandeja com um café. A imagem era composta, ainda, de uma menina, brincando com uma boneca e um menino, com um carrinho. Não acredito que tenha sido proposital, mas a imagem passava a clara mensagem que os homens leem e as mulheres servem. Uma indução inocente, mas desagradável.
No mundo contemporâneo, por que os homens brasileiros leem menos? Antes que alguém evoque a maior sensibilidade feminina para as artes, o hipotético “tempo de sobra” ou argumentos similarmente frágeis, recorro novamente às pesquisas. Quando questionados em estudos sobre o que estão fazendo nos momentos de lazer, homens e meninos revelam: dedicam mais tempo à televisão – especialmente programas de esportes –, acessam a internet e convidam os amigos para jogar videogame.
De toda forma, a questão da leitura no Brasil é extremamente delicada. A pesquisa mostrou que a parcela de leitores caiu de 55%, em 2007, para 50% em 2011. O número de brasileiros considerados leitores – que leram uma obra nos três meses que antecederam a pesquisa – caiu de 95,6 milhões, em 2007, para 88,2 milhões em 2011. Os dados mostram claramente que precisamos investir em uma nova cultura capaz de formar uma nova geração de homens e mulheres; uma nova geração de leitores.
* Lu Magalhães é presidente da Primavera Editorial. Executiva graduada em matemática pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), com mestrado em Administração (MBA) pela Universidade de São Paulo (USP) e especialização em Desenvolvimento Organizacional pela Wharton School (Universidade da Pennsylvania, EUA). Com experiência como consultora por 20 anos, a executiva atua no mercado editorial nacional e internacional desenvolvendo parcerias e contratos com agentes literários na avaliação de obras para a compra de direitos autorais, além de participar ativamente de feiras internacionais do setor. Lourdes Magalhães atuou em editoras consideradas referência.