Assistentes digitais machistas e a robô feminista
Um relatório divulgado na semana passada pela Organização das Nações Unidas (ONU) aponta que os assistentes digitais que respondem com voz feminina e são apresentadas como mulheres – Siri (Apple), Alexa (Amazon) e Cortana (Microsoft) – estão reforçando estereótipos sexistas. A constatação é que esses assistentes de voz foram desenvolvidos para serem submissos e servis; a responder educadamente os insultos, inclusive.
No comentário de pesquisadores da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO), essas características reforçam a tendência de gênero e normalizam o assédio sexista.
Sobre os robôs e a criação de uma robô feminista
A recomendação que o órgão faz é que as empresas adotem ações para a criação de assistentes digitais com gênero neutro e programar as modalidades existentes para desestimular comportamentos e linguagens abusivas.
A notícia – publicada pela agência Reuters – me causou enorme perplexidade. Antes de concordar ou discordar, pensei em quanto estamos atentos aos detalhes; às minúcias que podem gerar ou incentivar comportamentos sociais inadequados. Esse é um tema que merece a nossa reflexão; afinal, os robôs são uma realidade.
Ler sobre os assistentes virtuais me fez lembrar da Beta (Betânia), um robô feminista que está ressignificando a luta pelos direitos das mulheres.
Criado pelo laboratório de ativismo Nossas – dedicado a criar novas formas das pessoas influenciarem a política, baseado na crença que por meio da tecnologia cívica podemos romper as barreiras e incentivar a participação de todos na política – a ferramenta faz um monitoramento legislativo e de políticas públicas voltadas para mulheres.
A proposta é que as mulheres se mantenham atualizadas sobre tudo o que há de mais importante sobre a luta feminista no Brasil via alertas e notificações enviadas pela robô feminista.
Esse alerta chama a atenção, inclusive, em caso mobilização necessária para defender algum direito. É uma forma de participar ativamente para impedir retrocessos e proteger os direitos femininos no país.
Quer um exemplo? Se um projeto de lei que fere o direito das mulheres for entrar em votação, um alerta é emitido para que seja feita uma mobilização contrária. Sabe aquela história de ficar sabendo só quando não tem mais jeito? Esqueça! Betânia, essa robô feminista, não deixa isso acontecer.
Uma das vantagens que gostaria de destacar é que por ser um robô, monitora em tempo real todas as ameaças aos direitos das mulheres se alguma entrar em pauta.
Na prática, oferece tempo para uma mobilização ativa capaz de barrar retrocessos. No site, um dos conteúdos mais incríveis é o Código Feminista, que dá luz à contribuição de mulheres que tiveram na história do desenvolvimento da tecnologia os nomes apagados. Ada Lovelace, Katherine Johnson e Clarisse de Souza são algumas das mulheres homenageadas. #ficaadica
Dica de livro:
Mulheres nas áreas de ciência, tecnologia, matemática e engenharia que foram esquecidas pela história estão no livro: Wonder Women. Claro, não são todas as mulheres que foram negligenciadas; mas 25 das mais inovadoras com ilustrações inspiradoras. Uma leitura perfeita para todas as garotas e mulheres que sabem que representatividade é importante.
Lu Magalhães, presidente da Primavera Editorial