Na contramão mundial: Vamos falar de política e educação no Brasil?
Falar de política nunca é muito agradável; porém, sempre necessário. Ainda mais quando vamos falar sobre Educação no Brasil.
A alfabetização e o ensino domiciliar são metas de Educação dos 100 primeiros dias do governo Bolsonaro – de acordo com o Ministério da Educação (MEC). Nomeado Alfabetização Acima de Tudo, o plano conta com a adesão do Ministério da Mulher, Família e Direitos Humanos, que pretende trabalhar para regulamentar o ensino domiciliar.
No processo, MEC e demais ministérios envolvidos no plano estudam banir métodos globais de ensino – com metodologia que parte de textos e experiências sobre as funções da linguagem para chegar às letras e sons, focando na compreensão da leitura.
A ideia é substituir esses métodos, sobretudo os associados à teoria construtivista de desenvolvimento cognitivo, para promover o método fônico: a aprendizagem começa nas letras e sílabas até chegar às palavras.
Falar sobre educação é falar de política
Nesse contexto educacional, o ensino domiciliar está no centro de uma decisão, no mínimo, controversa. Em 2018, o Supremo Tribunal Federal (STF) declarou que a prática não era permitida no Brasil; como não há lei que regulamenta essa modalidade de ensino, uma Medida Provisória seria o caminho viável para permiti-la. Será que Bolsonaro pretende governar por decretos?
Eis que esse é o plano! A Medida Provisória está sendo redigida para regularizar as cerca de 7.500 famílias – de acordo com estimativa da Associação Nacional de Educação Domiciliar – que adotam a modalidade.
Vale lembrar que parte desse contingente é composto por pessoas que discordam da linha educacional oferecida nas escolas por motivos religiosos.
No mundo: a educação reinventada
Enquanto discutimos o tema nos trópicos, na Finlândia – reconhecida pela educação inovadora –, haverá a abolição da divisão do conteúdo escolar. Na prática, será o primeiro país a eliminar a separação do conhecimento passado nas salas de aula. Uma aula, por exemplo, sobre o Ecossistema Polar Ártico reunirá conhecimentos das disciplinas de Biologia, Química, Geografia e Matemática/Estatística.
Com essa medida, o ensino passa a ser em tópicos: classificado como multidisciplinar ou por fenômenos, conforme terminologia adotada pelos educadores.
No cerne da preocupação dos dirigentes e especialistas em Educação está a necessidade de preparar as crianças para o futuro, desenvolvendo competências que realmente são demandadas. O que foi ensinado nos anos de 1900 serviu a um mundo que não existe mais. Por isso, a ideia de substituir matérias por fenômenos.
A decisão do Brasil parece ser mais questão de política do que de educação e está na contramão mundial – tanto em voltar a alfabetizar por letras, quanto por usar uma Medida Provisória, sem o amplo debate, para autorizar famílias a educar crianças em casa, sem questionar a infraestrutura e uma forma eficaz de avaliar o real impacto dessa modalidade.
Criança na escola significa exercitar a tolerância, a convivência, a inclusão e o respeito às diferenças. É lamentável que a educação pública não prepare as nossas crianças e jovens para os desafios do século XXI, sobretudo porque as escolas particulares seguirão na trajetória rumo ao futuro, preparando os alunos para as competências que serão demandadas no trabalho e na sociedade.
Ou seja, a educação continuará reforçando a diferença de classes sociais e as oportunidades de ascensão social. Lamentável.
Lu Magalhães, presidente da Primavera Editorial