Maid nos dá a oportunidade de refletir sobre a violência psicológica contra as mulheres
Em muitos artigos, abordei a questão da violência psicológica. Na prática, essa é uma temática presente em muitas reflexões da Primavera Editorial. E, mesmo familiarizada, fiquei muito chocada ao assistir à série Maid, da Netflix, uma série que nos dá a oportunidade de refletir sobre a violência psicológica contra as mulheres.
O fato de a protagonista não se dar conta da violência sofrida por não apanhar do companheiro é algo muito forte e muito real! Sem agressão física, muitas vítimas não se reconhecem como tal; não se veem no lugar como prisioneiras de um relacionamento abusivo.
Violência psicológica: quando a mulher não sabe que é vítima
Baseada em fatos, Maid conta a história de Alex (Margaret Qualley), uma mullher que sai de casa com a filha em busca de algum tipo de suporte social que a ajude a se manter longe do companheiro abusivo. Ao relatar à assistente social a sua demanda, é questionada se possui um boletim de ocorrência – essencial para ser encaminhada a um abrigo e para dar status de vítima de violência doméstica. O fato de não deixar marcas físicas, sabemos, não confere à situação normalidade.
A protagonista não tem a clara consciência de que sofria violência doméstica, porque não apanhava. Com isso, nunca pensou em fazer um boletim de ocorrência ou o que valha. É muito triste saber que esse tipo de pensamento não está restrito à ficção, até porque a série é baseada em fatos.
O desafio de identificar e reconhecer a violência
No Brasil, a lei (14.188) – que reconhece a violência psicológica – foi sancionada somente em 2021! Se de um lado temos um ganho enorme, do outro, há uma urgente demanda em ajudar muitas mulheres a identificar esse tipo de agressão. Além delas, temos que enfrentar o desafio de preparar toda a sociedade, porque muitas pessoas que vivem no entorno dessa vítima não a reconhecem como tal. E voltamos à história das marcas físicas!
A série lança luz, também, à violência patrimonial – que é expressa pela subtração de bens conjuntos (carro, conta em banco) e que costuma acompanhar a violência psicológica. Um outro ponto relevante é a naturalização dessa situação por diferentes gerações. O estereótipo da mulher que deve ser compreensiva e aguentar o casamento em prol dos filhos é uma narrativa muito presente nesse tipo de história.
Recomendo, muito, a série Maid. Sempre acreditei que filmes, peças de teatro e livros são combustíveis para fomentar conversas difíceis que a sociedade deve ter. A “ficção” pode pautar reflexões qualificadas e, pela capacidade de nos envolver na história, trazer essa urgência em olharmos para o entorno e reconhecermos situações similares.
Será que uma amiga, familiar, colega de trabalho ou conhecida não está na mesma situação que a personagem? E, mais importante: será que não podemos ajudar, mesmo que seja indicando a série? A pensar!