Dia da árvore: A vida secreta das plantas
Amanhã, dia 21 de setembro, é Dia da Árvore, uma data que costuma nos remeter à infância e aos trabalhos de arte cheios de cores, que fazíamos na escola primária. Flores, árvores, plantas são bem comuns quando começamos a nos expressar por desenhos, lembra?
O Dia da Árvore foi escolhido nesta data por anteceder o início da Primavera no hemisfério sul, que dependendo do ano pode ocorrer entre os dias 22 e 23 de setembro. Entretanto, quando se é adulto – e se vive no Brasil –, a efeméride tem outro significado. E, lendo o livro A revolução das plantas, do italiano que criou a neurobiologia, fiquei fascinada sobre o assunto e fui em busca de mais informações sobre Stefano Mancuso; deparei-me com um artigo que ele escreveu para a Revista Época, no final de agosto.
Além do dia da árvore
No texto, Mancuso conta que o interesse pelas plantas e árvores é quase sempre uma paixão adulta; inclusive a dele aconteceu aos 22 anos, na graduação em Biologia. A primeira investigação foi como certas raízes faziam para ultrapassar obstáculos; a fascinação estava em como buscavam a melhor posição para absorver água, encontrar a luz do sol ou evitar químicos.
Daí, a constatação de que as plantas não são estáticas ou passivas; pelo contrário. Antes, fazem movimentos magníficos, empregando a energia do ambiente. Uma outra constatação é que têm uma organização também magnífica. Diferente dos animais – que centram a organização em órgãos específicos, controlados pelo cérebro, gerando uma espécie de hierarquia –, as plantas têm habilidades difundidas em todo o “corpo”, evitando pontos fracos. Elas também respiram, pensam, alimentam-se e se comunicam com todas as partes. Por isso, mesmo quando sofrem danos imensos, são capazes de sobreviver.
Na visão de Mancuso, as plantas são organismos sensitivos e cognitivos. Assim, dessa conclusão, surgiu o input para que desenvolvesse a neurobiologia, a inteligência vegetal e a investigação se uma árvore poderia, por exemplo, se comportar como um sujeito. Parece doideira, né?! Essa inovação foi imensamente complexa porque ninguém falava sobre isso; ninguém sabia que na ponta das raízes há sinais elétricos similares aos do cérebro humano. Quando o estudo foi publicado – com muitas críticas – um grupo de 36 cientistas notáveis dos quatro cantos do mundo publicaram um manifesto, acusando Stefano Mancuso de ser um farsante.
Dizem que os gênios são confundidos com loucos, né? Foi o que aconteceu com ele. Em contrapartida, começaram a surgir muitos estudos que apoiaram a pesquisa de Mancuso sobre a biomimese – soluções inspiradas nas plantas e ávores, ou seja, caminhos para desenvolver tecnologias inspiradas nelas. (Leia mais sobre o assunto, neste de Michael Pollan)
Organizações em redes: sem hierarquia
Ele, aliás, produziu o primeiro plantoide: algo similar a androide. Na percepção do neurobiologista, usando as plantas como inspiração, podemos construir organizações melhores e modernas no âmbito social e político. Isso porque nas plantas não há esse “cérebro” único, que comanda tudo; não há uma hierarquia. Nelas, está tudo difuso, operando como uma rede espalhada em múltiplas direções. Sabe a internet, uma rede horizontal e difusa? Tal qual! A planta se organiza sem um centro de comando, sem hierarquia.
Dia da árvore: reflexões para o futuro
Essa é uma inspiração absurda para o nosso futuro! E por falar em futuro, Stefano Mancuso se diz apavorado com o que está acontecendo na Amazônia: “Quando você destrói a floresta, ameaça espécies de árvores e plantas que nem sequer foram descobertas e jamais voltarão. E naquela espécie talvez houvesse algum conhecimento que pudesse ser importante para nosso futuro, como uma substância que pudesse tratar uma doença”, afirma. No futuro, acredita o especialista, ter florestas cheias de árvores será como ter uma mina de diamantes. Uma riqueza que estamos desperdiçando de forma tão irresponsável. Triste.
Lu Magalhães, presidente da Primavera Editorial