Jovens leitores debatem política na Bienal 2016
*Por Diogo Salles
No primeiro texto que escrevi aqui neste espaço, falei sobre a possibilidade de meu livro ‘Trágico e Cômico: os protestos em charges’ ter uma segunda vida. Era ainda um conceito prematuro para a época, mas na Bienal de 2016 uma luz se acendeu. Ao chegar para o bate-papo com leitores no stand Primavera Editorial/ Editora Empíreo, percebi que o público que me aguardava era formado em grande parte por alunos do ensino médio.
O debate que propus era basicamente o mesmo trazido no livro: discutir ideias e conceitos políticos, e não discutir pessoas ou partidos. Questionar principalmente o nosso sistema político de troca de favores, e não cair na polêmica fácil de “petralhas” e “coxinhas”. Falamos sobre como jovens consomem informação, como falam de política nas redes sociais, sobre as diferenças entre charge e meme, sobre a suposta imparcialidade da imprensa, sobre pessoas desfazendo amizades em redes sociais por divergências políticas.
Concluí dizendo que é perceptível que a sociedade está mais interessada em política, mas isso não implica que esteja mais bem informada. Segundo estudos realizados aqui e fora do país, aproximadamente sete em cada dez brasileiros se informam através das redes sociais – e lá, como sabemos, não é exatamente o espaço onde o bom debate frutifica. É o palco principal das opiniões extremadas, do ódio ao contraditório e da desinformação.
Como exemplo, citei o atualíssimo episódio do senador da república que, às vésperas do impeachment, postou em seu Facebook uma charge minha de 2011 como se fosse atual, tirando-a do contexto original. Para piorar, deu crédito ao New York Times, com intenção de dar maior relevo à sua agenda política. Resultado: 20 mil curtidas, mais de 38 mil compartilhamentos (até o momento) e reprodução massiva em diversos sites – todos citando o senador como fonte.
Esse era o gancho ideal para a mensagem que eu queria deixar: quem quer se informar sobre política precisa ser mais curioso, procurar mais o jornalismo factual e menos o opinativo, desconfiar dos “donos da verdade”, ler fontes e correntes de pensamentos diferentes, em vez de adotar o primeiro discurso bonito que aparecer na timeline. Parafraseando Millôr Fernandes: perguntar respostas, em vez de responder perguntas. É assim que se forma uma visão política própria.
Pela primeira vez ficou palpável o enorme potencial do livro com o público do ensino médio. E essa percepção vem em boa hora, pois vejo os jovens cada vez mais perdidos, boiando no meio do chorume de certezas das redes sociais e não sabendo em que (ou em quem) acreditar. Como gosto de dizer, a charge pode ser a porta de entrada da moçada para a política, e meu livro tem o mérito de trazer a perspectiva histórica de como operou o nosso sistema político até o presente momento.
Agora caberá à essa nova geração trabalhar em cima das dúvidas que o livro suscita. Por isso vejo ‘Trágico e Cômico’ seguindo um bom caminho não apenas para envelhecer, mas também para rejuvenescer.