Mulheres empreendedoras: pioneirismo feminino em pauta
Com um pouco mais do que trinta anos, a engenheira Juliana Coelho comemora a conquista do comando da fábrica Fiat Chrysler, em Goiana, Pernambuco — e se torna a primeira mulher a comandar uma posição tão alta no Brasil. Essa é a fábrica mais moderna do mundo do grupo, um local que conta com 6,5 mil profissionais. O que deveria ser uma notícia corriqueira sobre mulheres empreendedoras que se destacam, torna-se algo que nos enche de orgulho e esperança. Afinal, o Brasil anda na contramão em tantas temáticas relacionadas a igualdade de gênero. Mas, às vezes, surpreende com uma novidade tão conectada com o espírito do tempo.
Dias desses, li uma entrevista com Muhammad Yunus – economista bengalês, Prêmio Nobel da Paz, conhecido como banqueiro dos pobres. Ele é um defensor do conceito de microcrédito e fundador do Grameen Bank; inovador, iniciou a concessão de crédito em Bangladesh, em 1983, sobretudo a mulheres empreendedoras, interessadas em desenvolver pequenos negócios. Nessa reportagem, ele dizia que o retorno ao velho mundo – em um contexto pós-pandemia – é como um suicídio. Claro, que a abordagem dele é muito focada na estrutura socioeconômica, mas acho que vale para uma reflexão mais ampla.
Mulheres empreendedoras têm menos crédito que homens
No Grameen Bank, a questão de gênero sempre foi um aspecto muito importante. Lá na década de 1970, quando Yunus começou a estudar economia, se deparou com um mundo no qual 99% dos empréstimos concedidos pelos bancos eram destinados a homens brancos.
Pensar em mulheres empreendedoras – sobretudo, nas pobres – tomando crédito para iniciar pequenos negócios era inimaginável. Hoje, o empreendedorismo feminino é uma potência em todo o mundo. Claro que existem muitos desafios a serem superados, mas há um número infinitamente maior de mulheres empreendendo e inovando.
Igualdade de gênero: uma luta social de homens e mulheres
E o que o banqueiro dos pobres tem a ver com essa jovem engenheira que assumiu o comando de uma fábrica automobilística de alta tecnologia ? Tudo! A meu ver enxergar a potência transformadora das mulheres, mesmo em ambientes muito masculinos, é o caminho para a mudança social que precisamos.
Uma mudança que tem que ser um pacto entre homens e mulheres. Ou seja, a luta por igualdade de gêneros deve ser tanto dos homens, quanto das mulheres. É uma luta social. Da mesma forma com que Yunus decidiu investir em mulheres empreendedoras, a liderança da montadora também o fez.
Essa defesa da aliança entre homens e mulheres na construção de uma nova sociedade, aliás, está muito presente no livro Escute o que ela diz | Viés inconsciente – o que os homens precisam saber (e as mulheres têm a dizer) sobre trabalhar juntos, da norte-americana Joanne Lipman.
A autora revela que, as grandes companhias estão investindo em treinamentos em diversidade — e os homens jovens têm um papel descomunal para rompermos com as culturas misóginas. A geração nascida entre a década de 1980 e início da de 2000 tem uma visão mais igualitária do mundo que as gerações mais velhas. Os homens da geração millennial – hoje entre 18 e 38 anos – têm mais probabilidades de favorecer um relacionamento igualitário entre maridos e esposas, por exemplo. Essa geração, inclusive, deve liderar uma nova cultura corporativa – mais justa e igualitária entre homens e mulheres.
| Por Lu Magalhães, presidente da Primavera Editorial