#TradWives, as esposas ultratradicionais
Quais motivos levam uma mulher a decidir ser uma esposa tradicional, submissa ao marido e seguir os moldes de um casamento da década de 1950? Com esse mote, uma reportagem da BBC abordou o movimento #TradWives, que tem crescido na internet.
Uma das entrevistadas é Alena Kate Pettitt – uma inglesa que cuida e mima o esposo como se estivesse em 1959. O estilo de vida dessa mulher é propagado no blog que mantém: The Darling Academy, no qual aborda estilo de vida, etiqueta, dicas para realizar tarefas domésticas com perfeição e como ser uma esposa tradicional.
Estar feliz por ser submissa ao marido. Essa conclusão, confesso, foi a que mais me chocou. O contrário disso, para Alena, ela vivenciou nos anos 1990, quando era uma estudante. A cultura da época a incomodava; morando em Londres, aos 20 anos, era uma profissional em ascensão, que vivenciava a cultura refletida em séries como Sex and the City. Segundo ela, a infelicidade marcava o seu cotidiano.
A liberdade, defendida pelo movimento feminista, não trazia conforto ou felicidade para essa mulher.
Feminismo, #tradwives e a liberdade de escolher
Sobre as críticas de que estaria jogando fora as conquistas femininas, ela responde: “minha opinião sobre o feminismo é que se trata de escolhas; se você diz que a mulher deve participar do mundo do trabalho e competir com homens, mas não pode ficar em casa, está tirando de mim essa opção”. Alguém me ajuda, aqui?! Como posso respeitar as escolhas dessa mulher e não ser contraditória? Estamos falando de uma jovem que vivenciou as conquistas femininas, teve acesso ao mercado de trabalho e às opções de se desenvolver profissionalmente, intelectualmente e emocionalmente. Mas, que vivia infeliz com essas escolhas até encontrar um homem que estava em busca de uma esposa tradicional.
Como entender uma mulher que prega um estilo de vida norteado por papéis de gênero ultratradicionais?
#TradWives X Meu Patrocínio: sobre julgar outros estilos de vida
Em 2019, no artigo “Curso para fisgar um marido rico”, abordei o case de uma escola criada pela norte-americana Jennifer Lobo, filha de brasileiros e autora do livro Como conquistar um homem rico. A empreendedora criou uma plataforma de relacionamentos Meu Patrocínio, voltada a sugar daddy e mommy, modalidade em que uma pessoa com alto poder aquisitivo banca as contas de quem não quer se preocupar com o vil metal (sugar baby). Esse site tem 1 milhão de cadastrados, sendo 14 mil mulheres inscritas que bancam jovens rapazes.
Nesse texto, abordei o quanto nos damos o direito de julgar esses dois perfis femininos: as jovens, que se submetem a esse tipo de “patrocínio” masculino, e as maduras – que topam investir em relacionamentos com homens jovens bancados por elas. Nos dois casos – esposas tradicionais e o do curso – acredito que vale a mesma elaboração sobre o quanto sempre julgamos quem tem um estilo de vida diferente do nosso.
Reforço que entre um julgamento e outro, devemos achar um espaço para ouvir. O respeito, a tolerância, a inclusão e uma série de comportamentos que tornam a vida em sociedade uma rica experiência passa, necessariamente, por essa escuta ativa e com disponibilidade para entender e aceitar jeitos de viver e pensar diferentes dos nossos. O que eu “acho” é menos importante do que como é a minha atitude perante o diferente. Defender causas confortáveis e politicamente corretas nos leva a um ambiente social seguro. Mas, no desconfortável está o crescimento; no respeito ao diferente, está a criação de uma sociedade mais empática.
| Por Lu Magalhães, presidente da Primavera Editorial