Vítima outra vez
Quarenta por cento das mulheres que fizeram um aborto autorizado no Brasil, no período de janeiro de 2021 a fevereiro de 2022, tiveram que se deslocar para fora do município onde residem. A viagem com altos custos emocionais e financeiros não é custeada pelo poder público.
Um levantamento feito pelo site de notícias G1 apontou que quase 40% das mulheres que fizeram um aborto autorizado por lei realizaram o procedimento fora do município onde residem. Na prática, a distância é uma das inúmeras dificuldades enfrentadas pelas brasileiras para obter o direito.
O mapeamento aponta que dos 1.823 procedimentos de aborto autorizados por lei no período entre janeiro de 2021 e fevereiro de 2022, 711 ocorreram fora da cidade da paciente; desse total, 25 mulheres precisaram sair dos seus Estados! O preço médio para o deslocamento é de R$ 430 com passagens – viagem que não é financiada pelo poder público.
O direito ao aborto: é preciso uma investigação policial?
A matéria fala, ainda, de uma cartilha do Ministério da Saúde que afirma não existir aborto legal no país, defendendo que os casos sejam submetidos a uma investigação policial. Lembro que a lei permite abortar em casos de estupro, anencefalia e risco à integridade física da gestante.
As mulheres entrevistadas pela reportagem relatam, ainda, a rispidez com que são tratadas durante o procedimento, ou seja, sofrem uma nova violência quando deveriam ser acolhidas em um momento tão difícil.
Uma gravidez que é fruto de uma violência sexual ou uma gestação que coloca em risco a integridade física da mãe é algo bastante difícil. É um pesadelo que deixará marcas para o resto da vida. Portanto, ter o Estado como um algoz que culpabiliza a vítima e dificulta o procedimento é algo inaceitável. É a barbárie!